Essas fotografias somos nós
Quando olhamos algo relacionado ao genocídio de Ruanda é natural nos colocarmos como espectadores distantes de todo este banho de sangue. Em julho de 1994, enquanto assistíamos a nossa seleção ganhar o tetracampeonato da Copa do Mundo de futebol, os ruandeses viviam o inferno. Em certo aspecto, se pensarmos na medida da maldade, ela é a mesma para todos nós, seres humanos. É perturbador aceitar que sob certos contextos, certas pressões e certos efeitos de drogas, talvez nós também pudéssemos ser agentes de uma barbárie como esta. Mas negamos, refutamos e ironizamos. Simplesmente julgamos, viramos as costas e nos enojamos com estas cenas. Essas fotografias somos nós: tudo que fizemos ou que deixamos de fazer. Entre os perpetradores desta barbárie estavam engenheiros, médicos, artistas, professores, cientistas – pessoas comuns que foram levadas a praticar tais atrocidades também temendo pelas próprias vidas ou para proteger seus entes queridos. Diante de um evento desta proporção é preciso compreender e aceitar a complexidade. É um exercício importante tentar entender por que os genocidas não são necessariamente vilões da história, mas pessoas como eu e você. São pessoas que sofreram por viver tempos cruéis, não muito longe daqui. Esta foto foi feita no memorial do genocídio na capital do país, Kigali, um museu cheio de crânios, fotos e vestígios daquele episódio impossível de esquecer.